Nome: Anica Bittencourt Idade: 24 anos Localização: Curitiba, PR
Eu odeio dar pedaço de Sonho de Valsa para as pessoas porque eu tenho um sistema legal de comer, tirando camada por camada. E aí as pessoas mordem e esculhambam meu sistema, e isso me deixa puta.
Fico louca da vida também com barulhinhos de colher batendo no copo e gente mascando chiclete.
Isso obviamente me qualifica como uma pessoa de manias, e não negarei: sou cheia delas. Por exemplo, eu sempre calço primeiro o pé esquerdo, e no momento que estou colocando o sapato penso "Nossa, começar com pé esquerdo dá azar".
E eu não sei bem se é uma mania, mas eu costumo ser meio avoada para coisas que as pessoas normais chamam de "importantes". Até hoje não decorei meu cpf e com relativa freqüência esqueço o número do meu telefone, ou ainda que na verdade me chamo 'Ana Paula', e não 'Anica'. Então, para não pensarem que sou esse azedume todo, resolvi acrescentar coisinhas fofas ao meu respeito. Eu adoro sorvete de menta com chocolate, dias de chuva e dar apertões em gatinhos. Sou fã dos 'Rolling Stones' (embora tenha passado uns anos da minha vida achando que só se pode ser fã dos 'Beatles' ou dos 'Stones', nunca os dois juntos), mas sempre esqueço de citá-los como banda favorita, assim como faço com o '1984' do Orwell na hora de citar um livro que mudou meu mundo (porque livros mudam pessoas, que mudam mundos, né?). Enfim, foi tão difícil achar essas coisas fofas que eu começo a acreditar que realmente sou esse azedume todo.
Frank, queriducho! Obrigada por resgatar o véio Hellfire!
*Hellfire Club,sexta-feira, julho 09, 2004*
Escrevi isso hoje de madrugada:
O NOIVO PERFEITO
Não que fosse uma pessoa crédula, mas aqueles eram tempos crédulos. Mas aconteceu de em uma tarde, ao caminhar na rua aproveitando o fraco sol do outono, um velho maltrapilho parou em sua frente.
Era um sujeito sujo, vestindo roupas puídas e de aspecto realmente repugnante, especialmente por causa dos olhos: tinham aquele branco característico de quem sofre de catarata. Não bastasse isso, ainda deixava um fino fio de baba escorrer por uma cicatriz no canto direito da boca.
Era de fato asqueroso, mas de tal forma que ela não conseguiu reagir e desviar. Ficou observando, esperando o velho dizer algo. Ele apontou diversas vezes na direção dela, até que finalmente sentenciou:
- Você morrerá pelas mãos da pessoa que mais ama.
E não se sabe ao certo se foi o horror à previsão do velho, ou apenas uma grande coincidência, mas o fato é que ela jamais se casou. Viveu sua juventude de namoros à namoros, nunca chegando muito além de um rápido noivado.
Quando perguntada sobre o motivo da solteirice, ela ria e dizia jocosamente:
- Está brincando? Casar para mim é literalmente pedir para morrer.
E evidentemente, todos riam. Adoravam as brincadeiras e o bom humor daquela que se tornou uma das mulheres mais populares da sociedade. O que as pessoas não sabiam é que a solidão que ela tanto defendia como um bem, transformou-se em um mal que ela alimentava horas a fio durante a noite, sozinha em seu quarto.
Era nessas horas que ela repassava vários momentos da sua vida, analisando pessoas que tanto a amaram, mas que por medo de amar (e não da previsão do velho, como sempre quis deixar bem claro), ela deixou escapar.
E sem perceber a solidão foi tomando conta, e não era mais um mal que alimentava apenas à noite. Alimentava agora todas as horas, fosse em um domingo quando não tinha companhia para almoçar, fosse durante um passeio no parque observando casais de namorados.
O mal cresceu tanto, mas tanto, que ela diminuiu. A alegria e o riso que já eram tão conhecidos, viraram uma pálida sombra do passado. Já não freqüentava mais festas, já não comia. Aos poucos foi definhando, trancada no quarto com sua solidão. E um dia, mais um daqueles dias quaisquer, não agüentando mais a solidão que criara durante os anos, acabou por se suicidar.
O velho maltrapilho não poderia estar mais correto em sua previsão.